domingo, 24 de abril de 2016

Análise de Filmes #10 - A Gata dos Meus Sonhos (1962)

Pôster Original do filme
Olá para vocês, leitores do Fênix no Sekai. Aqui é o Diego Felipe e trago a vocês mais uma análise de filmes. Dessa vez pesquisei do fundo do baú um desenho raro e não muito popular: A Gata dos Meus Sonhos (em inglês Gay Pur-ee), de 1962

A obra não fez sucesso na época que foi lançada e acabou caindo no esquecimento. No entanto certas curiosidades de produção e também alguns elementos do filme fazem com que sua situação de ostracismo, embora muito compreensível, seja menos justa do que possa aparentar.

Bem, vamos logo à análise.



FICHA TÉCNICA
- Título Original: Gay Purr-ee
- Diretor: Abe Levitow
- Produtor: Henry G. Saperstein e Lee Orgel
- Roteiro: Dorothy Webster Jones e Chuck Jones
- Estúdio: UPA (United Produtions of America)
- Distribuição: Warner Bros.
- Duração: 85 minutos
- Data de Lançamento: 24 de Outubro de 1962 (EUA).
- País: EUA


A HISTÓRIA

Provence, França. 1895
A história se passa em 1895 e se passa em Paris, mas começa na campestre cidade de Provence. Lá mora a gata doméstica Mewsette, uma personagem muito delicada e inocente. Ela acaba se entendiando com a vida no campo e decide partir para Paris.

Mewsette
Em sua ida ela acaba deixando pra trás Jaune Tom, um gato corajoso e rústico, porém tímido. Jaune Tom, na companhia de seu pequeno e atrapalhado amigo Robespierre, parte para descobrir o paradeiro de Mewsette.

Jaune Tom
Mal Mewsette desembarca e ela acaba conhecendo Meowrice, um gato vigarista que apresenta-se como uma pessoa capaz de ajudá-la a se tornar uma gata refinada, porém tem planos escusos para ela. Para ajudá-la a se tornar uma moça mais refinada Meowrice terá a ajuda da arrogante e interesseira Madame Rubens-Chatte.
Meowrice


CRÍTICA

Pode-se dizer que A Gata dos Meus Sonhos é um daqueles filmes que, embora pouco lembrados, tem lá sua relevância histórica, embora no caso seja mais para compreender muitas situações relacionadas aos bastidores da animação dos anos 1960 do que precisamente pela importância do filme para o mundo da animação.
Robespierre
No entanto o foco em questão é no filme. A obra desenvolve no clima dos filmes musicais que surgiram a partir da segunda metade dos anos 1930. O gênero musical, curiosamente, passaria a perder popularidade na década de 1960, perdendo espaços para filmes mais políticos e com abordagem mais realista. Dentre tais musicais populares destaques para A Viúva Alegre (1934). O Mágico de Oz (1939), Agora Seremos Felizes (1944), Ziegfield - O Criador de Estrelas (1937) e Cantando na Chuva (1951), dentre outros.

Infelizmente o gênero musical não desperta como antes o interesse do público que frequenta os cinemas, tanto é que poucos filmes musicais foram lançados nos últimos anos sendo bem-sucedidos, tais como Chicago (2002), Hairspray (2007), Os Miseráveis (2012) e Caminhos da Floresta (2014).
Madame Rubens-Chatte
A fábula de Mewsette, assim como a maioria dos musicais citados dos tempos mais antigos, desenrola-se por meio de uma fábula bonita e simples, sem grandes enlaces de complexidade. Em suma, uma obra que tentava fisgar realmente os apreciadores do gênero.

Os capangas de Meowrice
Mewsette, dublada tanto em diálogos quanto em canções pela icônica atriz e cantora Judy Garland, mostra-se uma personagem relativamente carismática. Jaune Tom ganha vida em diálogos e canções interpretadas por Robert Goulet, cantor americano mas descendente de franceses e canadenses. Trata-se da primeira vez que Goulet participou de um filme. Futuramente participaria de obras como Os Fantasmas se Divertem e Corra que a Polícia Vem Aí 2 1/2.


Mewsette e Jaune Tom acabam fisgando com certa facilidade o público que se identifica com personagens mais puros de coração. Mewsette, embora sonhe com uma vida mais badalada, ainda mantém a inocência da vida campestre. E Jaune Tom, exímio caçador de ratos, consegue apresentar-se como um personagem que, embora rústico, é capaz de tudo para agradar Mewsette e ficar ao seu lado (embora nem sempre ele use das melhores ideias, como presenteá-la com um rato).


Como melhor amigo e grande aliado de Jaune Tom está o nanico Robespierre. O gato é dublado pelo comediante Red Buttons, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Sayonara (1957). O parceiro de Robespierre é muitas vezes um dos ganchos para tornar momentos mais arrastados menos complicados de se assistir.


Quanto ao vilão, Meowrice, embora não chegue a ser um personagem memorável, sua classe e refinamento impressionam, bem como seus objetivos, que embora sejam abordados de forma rasa podem ser encarados de forma um pouco mais complexa (pois há relação com o tráfico de pessoas). E seus capangas, quatro gatos pretos, acabam transmitindo eficazmente os momentos menos otimistas do filme e tem seu momento de maior brilho na canção de vilão "The Money Cat".


Não dá pra deixar passar batido que mesmo sendo uma fábula sem elementos demasiado complexos o roteiro comete deslizes que poderiam ser evitados mesmo para os padrões da época do lançamento, como a forma que o vilão Meowrice tenta afastar Jaune Tom de Mewsette (como ele sabia quem era Jaune Tom e que ele estava atrás da Mewsette?). Outro defeito da obra está na forma arrastada como a trama se desenvolve. Há momentos e situações que poderiam ser encurtados ou mesmo cortados para dar um tom mais ágil à trama.


Quanto às questões históricas da obra vale lembrar que o desenho foi o segundo e último filme animado produzido pela United Productions of America (o primeiro foi 1001 Arabian Nights, filme de 1959 protagonizado pelo icônico Mr. Magoo). O baixo desempenho nas bilheterias e os problemas de distribuição acabaram contribuindo posteriormente para que o estúdio, devido a uma série de dificuldades de cunho financeiro e administrativo, parasse de fazer animações.


Outra polêmica está no fato de Chuck Jones e sua esposa Dorothy Webster Jones estarem por trás do roteiro. Na época Chuck tinha um contrato de exclusividade com a Warner Bros. e o violou roteirizando o filme, com o amigo Abe Levitow na direção. A Warner Bros. aceitaria distribuir o filme mais tarde mas ao descobrir que Chuck violou o contrato ele foi demitido. Mais tarde Jones seria o responsável pela equipe que produzindo os curtas-animados de Tom & Jerry nos anos 1960.


Falando em animação os enquadramentos e cenas do filme são de encher os olhos. O aspecto visual muitas vezes mostra-se a parte mais caprichada da obra, principalmente em uma cena particular em que Mewsette é supostamente representa por pintores como Claude Monet, Henri de Toulouse-Lautrec, Georges Seurat, Henri Rousseau, Amedeo Modigliani, Vincent van Gogh, Edgar Degas, Auguste Renoir, Paul Cézanne, Paul Gauguin e Pablo Picasso.


As canções são outro ponto positivo. Elas são compostas por Harold Arlen e E. Y. "Yip" Harburg, que também são responsáveis pelas canções de O Mágico de Oz, protagonizado por uma jovem Judy Garland. Aliás foi Garland, justamente a intérprete de Mewsette, quem sugeriu que eles fossem os compositores das canções do filme. E de fato o resultado das canções é positivo, desde a simpática Take My Hand, Paree à melancólica Paris is a Lonely Town, além da já citada canção de vilão Money Cat e da "boêmia" Bubbles. Tem também a música-tema da protagonista, "Mewsette".

Em suma, A Gata dos Meus Sonhos é um filme que, embora pouco marcante, é simpático e pode agradar aos interessados em musicais mais antigos. Além disso pode vir a ser interessante conhecer ou tomar conhecimento de animações pouco lembradas nos dias de hoje.

Take My Hand, Par-ee

The Money Cat

Bubbles

Paris Is a Lonely Town

Mewsette Song



ONDE ASSISTIR

É possível baixar o filme em legendado ou dublado em português via Torrent através do site Stiefelblitz!. Outro site onde é possível baixar o filme é o Cine Um Por Dia. O acesso aos links desses sites pode ser conferido abaixo:
Bem, pessoal, essa foi mais uma análise de filmes para o Fênix no Sekai.
Até a próxima!


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